Cultural and Social Design in Monchique, local research strategies

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Rita Filipe
https://orcid.org/0000-0002-2122-7605
Maria Caeiro Martins Guerreiro
https://orcid.org/0000-0003-3714-0122

Abstract

This article describes the action research work which has been carried out in the town of Monchique, developed simultaneously by research professors and architecture and design students, in collaboration with local entities, the community and some artisans from Monchique.


The aim is to rethink and requalify places and local production, to contribute to the settlement of the population, reframing people's lives and their practices in the contemporary rural environment, through strategies for valuing local culture, in a municipality that holds a very rich cultural heritage. rich and with an aging and gradually decreasing population.


As part of a qualitative study, the research is developed through short-term fieldwork missions in Monchique, alternated with project phases in a studio environment, in an academic environment (FAUL, ESECUALG) and periodic presentations and discussion of the results obtained with the population and local entities.


The projects arise from the observation of real problems identified in situ, from visits to places of cultural and social interest, meetings with local agents, visits to artisans' workshops, consultation with specialists, workshops and exhibitions that provide direct dialogue with the population.


With this study, we gain in-depth knowledge of the region, we provide the sharing of projects between designers and craftsmen, architects and local entities - as active multidisciplinary contributions, promoting the academy - society collaboration, and a great motivation for students getting involved with real design issues during their academic career.


We therefore produce several proposals, within the scope of product design, communication, architecture and urbanism, suggestions that provide a strong development and knowledge of a village, located in the interior of the Algarve.

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1. Introdução

Monchique é uma vila com 2.300 habitantes, localizada na região do Algarve, reconhecida pelas suas fortes tradições artesanais. No entanto, enfrenta desafios significativos, como o risco de desertificação e a constante ameaça de incêndios. A escolha de Monchique para este projeto surgiu a partir de uma consulta feita ao CEARTE, que destacou a vila como um exemplo de população rural do interior do país, com uma produção cultural tradicional local, ativa e diversificada.

Esta investigação reúne docentes investigadores e alunos de urbanismo, arquitetura e reabilitação, design de produto, moda e comunicação da Faculdade de Arquitetura da UL e da Escola Superior de Educação e Comunicação da UAlg, em colaboração com a Câmara Municipal de Monchique (CMM), a Junta de Freguesia de Monchique (JFM) e a Associação dos Artesãos e Artistas de Monchique (AAAM).

O nosso plano de ação inclui produzir projetos adequados à capacidade produtiva do local; Contribuir ativamente para o desenvolvimento da região e para a valorização do artesanato local; Atualizar as estruturas e serviços locais às expetativas de potenciais futuros habitantes; Contribuir para a dinamização cultural do lugar, captando residentes mais jovens; Aproximar a academia e a sociedade civil, aplicando os conhecimentos teóricos e práticos adquiridos nas aulas às necessidades sociais, económicas e ambientais da população; Ensinar aos alunos a prática de projetos sociais e culturais participativos, de sustentabilidade social e ambiental, em sintonia com a vida real das pessoas.

Propomo-nos trabalhar para uma serra e uma vila em rede com o mundo, compartilhando práticas sociais e produção cultural, natureza, alta e baixa tecnologia, e sustentabilidade. Promover a visão de uma ruralidade cosmopolita e dinâmica, hoje muito próxima do imaginário urbano. Como uma experiência integrada para uma rede global de inovação coletiva e projetos sustentáveis.

2. Estado da Arte

Longe de uma perspetiva formalista, funcionalista e capitalista do design, o design social surge como uma oportunidade de projetar com e para as pessoas, tentando contribuir para o bem-estar coletivo de todos e de cada um.

No Design Social as nossas preocupações vão ao encontro da definição de Campagnaro, no sentido em que este projeto “reforça a dimensão relacional participativa dos processos, das experiências e dos produtos” - como parceiros a operar numa rede transdisciplinar; “respeita e sublinha as relações entre as pessoas e os valores locais” - trabalhando em coautoria com os artesãos, indo ao encontro da sua experiência pessoal; “protege e desenvolve o capital humano e da comunidade” - contribuindo para a criação de novas dinâmicas sociais e culturais; “envolve os beneficiários no processo, conferindo-lhes poder e encorajando o livre arbítrio” - não sendo detentores exclusivos das ideias e soluções propostas e trabalhando em prol da comunidade; “negoceia os resultados e os métodos utilizados para os atingir” – permanecendo atentos à exequibilidade dos projetos, da sua oportunidade e adequação (Campagnaro, 2018, p. 38).

No Design Cultural abordamos o estudo da cultura material e imaterial tradicional e vernacular, bem como a recuperação de estruturas produtivas existentes, como fonte de inspiração para novos conceitos em design, promovendo diálogos culturais através dos objetos.

Tal como descreve Manzini, a partir de Claude Lévi-Strauss, “o bricoleur [designer] apropria-se dos objetos existentes, identifica-os, descontextualiza-os e reinterpreta-os alterando [atualizando] o seu significado” (Manzini, 2019, p.50). Assim, procuramos recuperar formas e técnicas de produção tradicional, investigando as práticas e significados associados a essas produções, recontextualizando-as no ambiente do quotidiano contemporâneo. Avalia-se também o propósito e a atualidade dessa nova produção especialmente no que se refere à sustentabilidade ambiental e humana. Porque “a função e o uso alteram-se em diferentes contextos históricos e culturais” (Vargiu, 2018, p. 54), tal como o valor e o significado simbólico dos objetos. Neste sentido, o conceito de 'original' não se define exclusivamente pela novidade, mas pela capacidade de rever, atualizar e interpretar de forma única a cultura material tradicional. O designer surge, não só como criador, mas como curador, propondo novos conceitos em objetos existentes - como exemplificado pelas subtis alterações feitas à cadeira de tesoura, típica de Monchique, por uma das investigadoras. Desta forma, “o novo pode constituir meramente uma mudança de perspetiva, exclusivamente com um processo mental. O novo pode ser entendido como um reformular do valor cultural [e social], e não dos objetos em si” (Helmling, 2018, p.148). Também para Anna Arendt “o novo é consequência da ação” (Malik, 2018, p.245) dada pela singularidade do olhar de cada pessoa.

A perspetiva de indivíduos externos à comunidade contribui igualmente para uma abordagem mais ampla e aberta dos objetos, desprovida das restrições funcionais e dos significados fixos associados à sua origem.

O redesign e a reabilitação arquitetónica estão associados simultaneamente ao passado e à inovação. “O património é proposto como uma questão de criação contemporânea, com o objetivo de abrir novas perspetivas no encontro entre a cultura tradicional e as novas práticas contemporâneas” (Duhem & Rabin, 2018, p.140). O seu novo significado torna-se assim inclusivo e o seu processo colaborativo.

As estratégias de aproximação à população, como os workshops de conversas com imagens, alinham-se com a perspetiva de Arendt descrita por Manzini (2019, p.118) “o processo democrático pode traduzir-se na implementação de uma malha complexa de conversas sobre temas de interesse comum”. Estes processos irão assim possibilitar o surgimento e a expressão tanto de interesses individuais quanto coletivos, fomentando a resolução colaborativa e ativa de questões pertinentes para a comunidade.

3. Métodos

As estratégias de investigação adotadas foram essencialmente práticas, baseadas na investigação-ação, com uma abordagem qualitativa e interpretativa. Estas estratégias foram desenvolvidas através de missões em trabalho de campo, em contacto direto com as entidades locais e a população, alternadas com a revisão da literatura, visitas a museus, aulas teóricas, desenvolvimento de projetos, apresentações e exposições dos trabalhos à comunidade.

A metodologia que definimos vai ao encontro da metodologia sugerida por Kenneth Rabin, em O Design do Património (Rabin, 2018, p.138), que aborda a Cartografia Cognitiva de Frederic Jameson (1984), destacando a necessidade de promover uma orientação social na experiência urbana. De facto, o trabalho de campo teve início com a construção de “mapas subjetivos a fim de integrar as várias escalas em estudo – os artefactos, os atores sociais, a envolvente física e a cognição distribuída socialmente” (Gallagher, 2013, p.138). Estes mapas foram elaborados de forma simultaneamente objetiva, subjetiva e emotiva, funcionando como diagramas transversais a todas as áreas de estudo.

Foram observados os 4R’s de Rabin, como Re-identificar – através do “reconhecimento e re-interpretação em simultâneo” – pela elaboração de croquis e apontamentos durante o trabalho de campo, sobre ‘o que é’ e ‘o que podia ser’, estudos de materiais e artesanias. Re-inscrever – “num contexto histórico mais alargado e refrescado (…), redefinindo claramente o significado do objeto situado no espaço e nas práticas quotidianas” (Rabin, 2018, p.140), em ambiente de atelier, trabalhando simultaneamente para os contextos rural e urbano, diversos e plurais. Re-criar – “o património é proposto como matéria de criação contemporânea. (…) O objeto é acessível como fonte de inspiração para os criadores contemporâneos” (idem, ibidem), adequando-os às práticas contemporâneas, concebendo objetos abertos a múltiplos usos e à produção de significado. E Re-verter – “o objeto adquire um estatuto próprio, inserido numa nova categoria referencial num novo contexto cognitivo, reunindo condições para a sua compreensão” (Rabin, 2018, p.141). Os novos objetos resultam de um real entendimento entre artesão e designer, fruto de uma criação conjunta, estabelecendo uma ponte cultural entre ambos os universos simbólicos. A beleza do produto resulta da beleza da oportunidade da sua produção e do entendimento entre todos os envolvidos.

4. Desenvolvimento da investigação

As deslocações com alunos da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa (FAUL), foram sempre compostas por dois docentes de arquitetura e design, e alunos provenientes das diversas áreas de projeto - design de produto, comunicação, moda, arquitetura, reabilitação e urbanismo. A seleção dos alunos foi realizada com base na recomendação dos docentes de projeto, no interesse demonstrado e na disponibilidade dos mesmos.

Deslocámo-nos pela primeira vez a Monchique 2019, em trabalho de campo durante uma semana, com o apoio da Câmara Municipal de Monchique, que nos disponibilizou a Galeria de Arte Municipal, onde montámos atelier, e onde decorreram várias reuniões com entidades locais, como a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia e a Associação dos Artesãos de Monchique, e fomos visitados por pessoas locais como guias turísticos, arqueólogos, artistas e população, pessoas curiosas com vontade de colaborar. Foi assim, que em conversas mais ou menos formais, foram surgindo momentos de partilha essenciais à boa auscultação do local. Durante esta fase de trabalho, foram mapeados os locais visitados, sugeridos pela população, incluindo áreas de interesse ambiental, localizações de artesãos e identificação das artesanais, bem como estruturas urbanas que aguardam reabilitação e espaços comuns de interesse social e cultural. As ideias emergentes foram sendo registadas no terreno, tanto em cadernos de campo como em mapas, à medida que surgiam as questões, através de uma observação naturalista e participada (Figs.1 a 4).

Figure 1. 1ª reunião com entidades locais e estudantes.

Figure 2. Visita a oficina de um artesão construtor de cadeiras tesoura.

Figure 3. Vista da arquitetura tradicional em Monchique.

Figure 4. Visita à Foia.

Este primeiro contacto com a realidade de Monchique permitiu-nos identificar questões como pouca conexão entre comunidades multiculturais que habitam tanto áreas rurais quanto urbanas; isolamento de pessoas e artesãos em áreas remotas; abandono de lugares de interesse patrimonial e ambiental; falta de oferta cultural; oferta obsoleta de produtos de artesanato; falta de comunicação e transferência de conhecimento da cultura material e imaterial intergeracional.

Após uma longa interrupção dos trabalhos, motivada pela pandemia de COVID-19, as atividades foram retomadas em outubro de 2022, com a adição à equipa de especialistas em Ciências Sociais e um parceiro externo local – a Universidade do Algarve. Foi promovido um encontro internacional que reuniu especialistas em ruralidade – paisagistas, arquitetos, designers e antropólogos – os quais partilharam experiências anteriores noutras localidades, o trabalho previamente realizado em Monchique e projetos em curso de combate aos incêndios (Corredor Verde).

O projeto de investigação prosseguiu durante o ano de 2023 com missões dos investigadores em Monchique com periodicidade mensal, criando oportunidades para a promoção de ações colaborativas, desenvolvimento de projetos, exposição dos trabalhos realizados e mapeamento de novos participantes locais no projeto.

Durante a festa de Monchique Vamos à Vila, foi realizado um workshop de conversas com imagens com um grupo de mulheres idosas do Centro de Dia de Monchique e com alguns visitantes da feira (Fig. 5), o que facilitou a partilha de histórias sobre os costumes e transformações locais. No entanto, a discussão concentrou-se mais no passado do que no futuro, o que motivou, mais tarde, a realização de um segundo workshop - desta vez com jovens estudantes, com o objetivo de auscultar a sua visão sobre o presente e o futuro (Fig.6). Estes workshops baseiam-se em conversas em torno de imagens à escolha de cada elemento do grupo de foco, sugeridas pelos investigadores, abordando cenas do quotidiano rural, urbano, património, natureza, jovens, emigrantes, multiculturalidade, redes virtuais, jogos tradicionais, entre outros assuntos identificados como relevantes para o contexto local.

Figure 5. 1º workshop de conversas com imagens.

Figure 6. 2º workshop de conversas com imagens.

Figure 7. Visita à oficina do Sr. José Rosa.

Figure 8. Visita à oficina do Sr. Márcio Alves.

No âmbito do design de produto foram desenvolvidos novos projetos por uma das investigadoras, Rita Filipe, em colaboração com dois artesãos locais - o Sr. José Rosa, cesteiro, e o Sr. Márcio Alves, marceneiro. O trabalho iniciou-se com visitas às oficinas, onde foram identificadas as técnicas em laboração, a produção existente e a motivação formal e funcional dos produtos, bem como analisada a situação atual da produção e do mercado. Com cada artesão procedeu-se a uma análise cuidada dos objetos que se destacaram pela sua adequação funcional à vida contemporânea. Desse olhar conjunto, surgiram novas ideias para o desenvolvimento de produtos que aliam inovação e tradição, sempre apoiados nas técnicas e na produção local.

Com base em referências partilhadas pelo Sr. José Rosa (Fig. 7) surgiu a ideia de construir um candeeiro alto em madeira e vime, pensado para espaços privados e coletivos, alinhado com as necessidades de um dos seus principais clientes – a hotelaria em Portimão. A forma inspira-se nas chaminés tradicionais da região, enquanto a técnica de conformação e a escala foram afinadas através de múltiplos ensaios, maquetes e visitas à oficina, numa constante troca de experiências e ideias entre artesão e designer.

Os projetos elaborados com o Sr. Márcio Alves, marceneiro (Fig. 8), debruçaram-se sobre a simplificação da cadeira tradicional de Monchique – a cadeira de tesoura. A peça foi redimensionada para servir como mesa de apoio, aligeirada pela remoção dos ‘patins’ e ganhando uma expressão contemporânea através da geometrização, resultado da simplificação dos cortes na madeira. Dada a ausência de outras formas tradicionais na produção do Sr. Márcio Alves, e com base numa pesquisa realizada no Museu Nacional de Etnologia, optou-se por trabalhar a partir de uma taça de cortar o pão em madeira. Após alguns esboços para aferir as dimensões mais adequadas às cozinhas contemporâneas e assegurar um manuseio confortável, foi proposta ao artesão uma interpretação livre da peça, em conformidade com o seu processo de trabalho – modelando as formas de acordo com as fibras naturais da madeira. O resultado é uma taça para cortar pão que, além de reter as migalhas, apresenta linhas mais orgânicas, mantendo a essência da peça depositada no MNE. A ligação com a tradição foi reforçada quando uma pessoa idosa reconheceu a peça, recordando-se de um objeto semelhante em casa da sua avó, em Monchique. O ciclo fechou-se assim na recuperação de saberes locais, pela sua relevância e funcionalidade na atualidade.

No âmbito do Design de Comunicação, os alunos da Universidade do Algarve, em colaboração com a investigadora Maria Caeiro Guerreiro, desenvolveram a criação e o redesign de vários produtos de comunicação. A necessidade desta intervenção surgiu a partir da identificação de fragilidades na comunicação, resultante do trabalho de campo realizado e das entrevistas exploratórias conduzidas junto de alguns artesãos, da presidente da AAAM e de responsáveis do meio político.

Um dos projetos consistiu no redesign da identidade gráfica da Associação dos Artesãos de Monchique - N’Artecicus, com o objetivo de proporcionar uma nova visão estratégica sobre as iniciativas atualmente desenvolvidas pelos artesãos locais. O outro projeto focou-se no redesign da linguagem visual dos produtos de comunicação e divulgação da Feira de Artesanato de Monchique ArteChique. Ambos os projetos iniciaram com uma pesquisa exaustiva de informações gerais e específicas, seguida de análise e criação de ideias preliminares, que foram posteriormente transformadas em conceitos únicos. Estes foram desenvolvidos em formato de maquetes físicas e virtuais, a fim de proporcionar uma melhor perceção das propostas. As ideias foram então apresentadas pelos estudantes a um grupo composto pelo Presidente da Câmara Municipal de Monchique, o Vereador da Cultura, o Presidente da Junta de Freguesia de Monchique, a Presidente da Associação do Artesãos e outros membros da comunidade.

Além destes projetos, uma aluna desenvolveu a identidade gráfica do projeto de investigação Design Social e Cultural em Monchique (manual de normas e aplicações), que incluiu a criação de um website e de um blogue colaborativo. O objetivo foi estabelecer uma plataforma para formar uma comunidade onde os usuários e os investigadores do projeto pudessem comunicar, partilhar dúvidas e informações diversas. Graças aos protocolos estabelecidos entre a Universidade do Algarve e a Câmara Municipal de Monchique, foi ainda possível realizar um estágio no Gabinete de Comunicação da CMM.

Todos os projetos criados no âmbito do design de produto e design de comunicação foram expostos no Salão Nobre da Junta de Freguesia de Monchique, durante a Feira Local ArteChique, em julho de 2024 (Figs. 9 a 12). Além dos diferentes produtos desenvolvidos, também foram apresentados painéis explicativos sobre o projeto de investigação em curso. A inclusão de mapas da vila e da região, abertos à interação do público, serviu para recolher contactos e localizar associações, agentes privados e membros da comunidade interessados em colaborar no projeto. Esses mapas facilitaram conversas e troca de informações ao longo da exposição, tornando-se uma ferramenta importante para fomentar o diálogo informal com a população.

Figure 9. Vista geral da exposição Design Social e Cultural em Monchique.

Figure 10. Vista geral dos trabalhos de design de comunicação.

Figure 11. Apresentação do projeto Taça Monchique para cortar o pão.

Figure 12. Mapa colaborativo intervencionado pela população.

Seguiu-se uma nova missão a Monchique com investigadores e alunos de arquitetura e design da FAUL, com vista ao desenvolvimento de estudos e propostas de projetos. Foram visitados locais de interesse social e cultural previamente identificados em colaboração com a CMM, como a escola primária, a casa do povo, o mercado municipal, os lavadouros, banhos públicos abandonados, procurando conciliar o valor patrimonial e social com o potencial de reabilitação. Pretendia-se sensibilizar os alunos para as características tectónicas e formais da arquitetura vernacular, propondo novos conceitos e novos usos, sob a forma de estudos prévios que contribuíssem para uma reabilitação oportuna e pertinente. No início do trabalho exploratório a CMM promoveu uma apresentação sobre a região, com a participação de políticos, artesãos, habitantes, procurando elucidar sobre a história da região, costumes e tradições locais, produção e extração, dificuldades e visões para o futuro.

Figure 13. Visita ao lavadoros em Monchique.

Figure 14. Visita á escola primária.

Figure 15. Visita aos passadiços de Alferce.

Figure 16. Visita à Casa do Povo

Os alunos, jovens adultos, potenciais futuros habitantes de Monchique, experimentaram a vivência local, atentos à falta de pontos de encontro social, de eventos culturais e de entretenimento, entusiastas pelas caminhadas e pelo desfrutar da natureza, interessados sobre como recuperar antigos edifícios de construção tradicional e que novos usos poderiam ser apropriados para estes lugares expectantes.

Motivados pelas oportunidades de projeto e pelo contacto direto com a paisagem, os lugares, a população, e o diálogo fácil com as entidades locais, – os participantes formaram grupos de trabalho e escolheram um local de projeto, recolhendo registos fotográficos, desenhos, notas, depoimentos orais sobre a história recente do local e plantas existentes na CMM (Figs. 13 a 16).

De regresso à Faculdade, foram desenvolvidos estudos com base nos elementos recolhidos durante a missão, analisando os levantamentos realizados, a sugestão e adequação dos espaços a novos usos, sempre em coordenação com os demais projetos para garantir uma ação conjunta e integrada. Foram elaborados desenhos, produzidas imagens ilustrativas dos ambientes propostos, além de esboços de plantas e cortes que demonstraram a exequibilidade das ideias sugeridas.

Estes estudos foram também complementados por uma apresentação em aula, realizada por uma docente antropóloga especializada em antropologia urbana, que abordou processos colaborativos de criação com a população, a criação de "terceiros lugares" e o conceito de placemaking, ou produção de lugares. Esta apresentação forneceu uma base teórica e prática importante para entender como envolver a comunidade no desenvolvimento de espaços públicos e na transformação de locais em lugares significativos para os habitantes.

Foram desenvolvidos projetos para um novo Centro Cultural, a reabertura da Casa do Povo e um candeeiro emblemático do local, um mercado de rua em Alferce, a reabertura do Mercado Municipal e da antiga Escola Primária. Foi realizado o segundo workshop de conversas com imagens, direcionado a adolescentes residentes no concelho, que revelaram a falta de locais de encontro de jovens, como salas de estudo ou espaços interiores coletivos onde possam conviver sem consumir - impressões estas que foram contempladas nos projetos em curso, como no Mercado Municipal previsto para uso social e cultural. Todos os projetos foram ilustrados em painéis e encabeçados com o lema “Viva Monchique / Monchique Viva”. Todo este trabalho culminou numa exposição final dos projetos, acompanhada de uma apresentação e discussão dos projetos de arquitetura, reabilitação e design, direcionada à população e às entidades locais de Monchique (Figs. 17 e 18).

Figure 17. Vista da exposição dos trabalhos realizados por alunos da FAUL.

Figure 18. Poster da exposição.

Figure 19. Apresentação das propostas de redesign da identidade da Associação de Artesãos N´ArteCicus.

Figure 20. Redesign da identidade visual da N'ArteCicus.

No âmbito do curso de Design de Comunicação da UAlg, foi desenvolvida uma nova proposta da identidade visual da XXXI Feira de Artesanato de Monchique – ArteChique, em colaboração com o Presidente da Junta de Freguesia Monchique e o designer responsável pela comunicação gráfica da JFM. No início do projeto foi realizada uma apresentação pelo Presidente da JFM sobre a história do evento, da vila, dos costumes e tradições, assim como uma apresentação relativa à comunicação gráfica da feira entre 2010 e 2024, além disso, os alunos visitaram a associação de artesãos N’ArteCiclus, que está sediada na Foia.

As propostas desenvolvidas pelos alunos durante as aulas foram apresentadas às entidades em estudo (Figs. 19 e 20), tendo sido selecionada uma das ideias para ser aplicada na comunicação e divulgação da edição de 2025 da Feira ArteChique. Em agosto de 2024, alguns estudos estiveram em exposição na Associação dos Artesãos N’ArteCiclus, e em maio de 2025 os trabalhos estarão patentes na Junta de Freguesia de Monchique, permitindo à população local conhecer o processo criativo e as diferentes propostas desenvolvidas.

No âmbito do mestrado em Design de Comunicação para o Turismo e Cultura, foi desenvolvido o mapeamento gráfico dos artesãos a trabalhar em Monchique, com base na recolha de dados realizado pelas investigadoras Rita Filipe e Maria Caeiro Guerreiro. Este processo incluiu a criação da identidade visual e de diversos suportes de comunicação, como uma aplicação móvel, desdobrável, outdoors e cartazes, destinados à promoção da Rota dos Artesãos.

A criação da Rota dos Artesãos visa colmatar uma lacuna importante: a ausência de divulgação e registo do trabalho desenvolvido pelos artesãos da região de Monchique. Este projeto será apresentado à Câmara Municipal de Monchique, à Junta de Freguesia de Monchique, à Associação dos Artesãos e Artistas de Monchique, ao Turismo do Algarve, e a outros agentes locais, com vista à sua posterior produção e implementação.

5. Resultados

No que diz respeito ao trabalho desenvolvido em Design de Produto, pretende-se que os projetos sejam integrados na produção local, como resultado de uma colaboração estreita entre o designer e o artesão. A responsabilidade pela produção e evolução formal dos objetos ao longo do tempo ficará a cargo dos artesãos, que os produzirão de acordo com o seu interesse e as oportunidades de mercado. Os novos produtos passam assim a pertencer aos artesãos, sendo desejável que funcionem como um estímulo para a contínua renovação e atualização da produção tradicional, alinhando-a com as práticas e exigências contemporâneas.

Relativamente aos estudos e ideias propostas pelos alunos de Arquitetura, está a ser analisada a possibilidade de realização de estágio na Câmara Municipal de Monchique (CMM). Caso essa opção não seja do interesse do aluno, está a ser considerada a integração dos estudantes na equipa da CMM, composta por arquitetos profissionais e técnicos especialistas, onde o aluno poderá atuar como colaborador ou consultor no projeto. Esta abordagem garante o respeito pela autoria das ideias propostas, enquanto se proporciona ao aluno a oportunidade de dar continuidade ao desenvolvimento do projeto. Esta experiência constitui uma excelente oportunidade para os alunos, proporcionando-lhes o contacto direto com projetos reais, a integração no trabalho desenvolvido em parceria com as entidades locais e a aprendizagem sobre os processos formais que viabilizam esses projetos.

No que se refere aos projetos desenvolvidos no âmbito do Design de Comunicação pelos alunos da Universidade do Algarve, algumas das propostas foram já aplicadas. Além disso, graças aos protocolos estabelecidos, ficou em aberto o desenvolvimento de novos projetos de comunicação com as entidades locais, com o objetivo de divulgar de forma eficaz o trabalho realizado no município de Monchique. Também foi registada a possibilidade de repetir estágios curriculares futuros entre as entidades, permitindo a continuidade do trabalho colaborativo.

6. Conclusões

Este projeto de investigação permitiu explorar e aplicar práticas de design orientadas para a revitalização e o desenvolvimento sustentável da região de Monchique. Através de uma estreita colaboração entre alunos, docentes, artesãos locais e entidades institucionais, foi possível conceber soluções inovadoras que articulam a preservação do património cultural com a adaptação às necessidades e exigências contemporâneas.

No âmbito do Design de Produto, os projetos realizados destacam-se pela implementação de um acordo de coautoria entre designers e artesãos, como resultado de um processo colaborativo. O facto de os artesãos assumirem a responsabilidade pela produção e evolução formal dos novos objetos permite que estes projetos sejam sustentáveis a longo prazo, oferecendo espaço para a inovação dentro das práticas tradicionais.

No que diz respeito ao Design de Comunicação, o redesenho da identidade gráfica da Associação dos Artesãos de Monchique e a reformulação da comunicação da Feira de Artesanato ArteChique surgem como respostas aos desafios comunicacionais identificados no trabalho de campo. A criação de novos materiais de comunicação e a realização de exposições permitiram aumentar a visibilidade dos eventos promovidos na região.

A metodologia adotada, que integra práticas de projeto colaborativo e reflexivo, visa o desenvolvimento de novas soluções para a revitalização da região, e a promoção de uma visão coletiva e inclusiva para o futuro. Através da exploração de histórias de vida, património cultural e espaços comuns, foi possível gerar um debate entre investigadores, alunos, artesãos e entidades locais, sobre os modos de vida contemporâneos e as possibilidades de transformação do território, impulsionando a criação de uma identidade partilhada e uma coesão social mais robusta.

Apesar das dificuldades logísticas, como a distância e o tempo limitado de contacto com a comunidade, os resultados deste projeto evidenciam o potencial do design como catalisador para a transformação social e cultural. A interação entre as práticas do design e da arquitetura e as dinâmicas locais, não só contribuiu para a revitalização de Monchique, como também abriu caminho para a continuação do trabalho em colaboração com as entidades locais, promovendo uma maior coesão intergeracional e multicultural.

Conclui-se, assim, que a metodologia adotada neste projeto, que combina investigação aplicada, design colaborativo e envolvimento comunitário, oferece um modelo eficaz e replicável para outras regiões do país. O design revelou-se uma ferramenta fundamental na promoção de uma abordagem integrada ao desenvolvimento sustentável e à preservação do património, sendo capaz de unir tradição e inovação de forma a responder aos desafios sociais, culturais e económicos do presente e do futuro.

Article Details

How to Cite
Filipe, R., & Caeiro Martins Guerreiro, M. (2025). Cultural and Social Design in Monchique, local research strategies . Convergences - Journal of Research and Arts Education, 18(35), 117–130. https://doi.org/10.53681/c1514225187514391s.35.308
Section
Review Papers
Author Biographies

Rita Filipe, University of Lisbon, Faculty of Architecture, Department of Design, CIAUD, Centre for Research in Architecture, Urbanism and Design, Faculty of Architecture, University of Lisbon.

Degree in Equipment Design from the Lisbon Faculty of Fine Arts, 1991. Master's degree in Product Design from FAUL with the theme “Transposition of Traditional Objects to Contemporaneity”, 2007. PhD in Product Design from FAUL with the theme “ Vista Alegre, Transpose the Form and Prolong the Use”, 2016. She has worked as a freelancer since 1991, in Design Product, Furniture, Interiors and Street Furniture. Assistant Professor at the Design Department of the Faculty of Architecture at U-Lisbon. Author and responsible for the Design Caderns of the magazine "Arquitectura e Vida" (2000 / 2006). Awarded with several 1st Prizes in national competitions, especially for urban equipment. Participation in several design exhibitions in Portugal and abroad, namely Lisbon, Porto, Madrid, Barcelona, ​​Berlin, Frankfurt, London, Paris, Milan, S. Francisco and Saint-Louis du Senegal. It is represented in the Lisbon Design Museum – Francisco Capelo Collection.

https://designecienciassociais.wordpress.com/

https://ritafilipe.com/

Maria Caeiro Martins Guerreiro, University of Algarve, School of Education and Communication, Department of Arts and Design, Penha Campus, CIAUD, Centre for Research in Architecture, Urbanism and Design, Faculty of Architecture, University of Lisbon.

holds a PhD in Design from the Faculty of Architecture of the University of Lisbon. Since 1994 has been working as a lecturer at the University of the Algarve. As a researcher in the field of Design, main specific areas of interest are: Inclusive design, Social and cultural design, Design training, Designers. Since 2015 has been a member of various scientific committees for scientific journals and international conferences and frequently invited to sit on juries for 2nd cycle exams. Coordinator and/or supervisor of various projects carried out with the community within the scope of the courses in Design at the University of the Algarve. Trainee supervisor. Supervision of several research projects within the scope of master's programs: Communication Design, Special Education - cognitive and motor domains, and Pre-School Education. Member of various organizational committees for national and international meetings and conferences held in the field of Communication Design at the University of the Algarve and in partnership with it. Author of several scientific and opinion articles and book chapters. Director of the master's program in Communication Design for Tourism and Culture, deputy director of the undergraduate program in Communication Design, and director of the Arts and Design department. Since 2021 has been the coordinator of the UALG/UL-FA Design Research Pole.

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